Do frescor das horas, Diana

Tere Tavares


  

A vigilância inflexível originava-se da seriedade com que se observava. Atrás das atitudes por demandar, um sorriso mordido embranquecia as molduras e teimava em não fazer parte das gotículas de uma láurea que, talvez, nunca tivesse desejado. 

Não reconhecia o homem emudecido que a fitava; ela mesma não compusera pela própria vontade aquele apego. A posição rígida e ausente, como num transe. Seus lábios severos e o rosto ebúrneo palpitavam entrecortados numa conexão aparentemente despida de reflexos – uma intrusão. 

Queria ver o invisível, sentir o pulsar da permanência e sua trama secreta. Por entre os ecos que eram, por sua vez, a repetição de outros ecos mais distantes, o intuito de mover-se se desenrolava em detalhes de pequenas relíquias. Aquela silhueta difusa não se representava por completo, mas perdurava-se como a inextinguível emanação do espelho que lhe dera morada.

A tentação inútil da aragem e seu choro contido persistiam umectando, debilmente, a casca das achas por arder nas chamas irredutíveis do tempo. Inconsumível. 

A fina coluna da janela confundia-se, desfazendo-se, breve como um sonho de fios, como a respiração do quarto para, quiçá, acabar noutro fogo raquítico e incoerente. 

“Assim te semeias vida minha. O que seríamos sem o que há para crer? O etéreo, por certo, abrirá as asas para quem é pássaro. Ou anjo? O conforto do mundo não deveria desconfortar-me”. 

Permanecia anestesiada pela indecisão, entre a fé e a realidade – gemidos asperamente maiores que a noite instilada na dureza gélida dos seus olhos, representações que nada desejavam senão a serenidade cruel da concretude. 

Esquecer-se de perguntar: uma probabilidade não considerada. As interrogações deixavam a pele para se filtrarem nas retinas do coração. 

Aproveitaria para reler-se na projeção triplicada, predileta, provavelmente durante o sono que, invariavelmente, tardava. O crime ausente que a fitava, tanto do mundo quanto a do seu reflexo de majestade inversa, integravam um fato que preferia pretérito.

A celebração, como se fosse uma vitória atônita, continuaria viva, em algum lugar indefinido, enquanto a suntuosidade instigante de uma indumentária irreconhecível, dizia-lhe que, no amor, inexiste a perfeição ou a possibilidade do envelhecimento, assim como são lábeis os diamantes da juventude.  

 

Tere Tavares, escritora e artista plástica, radicada em Cascavel, PR, BRASIL, autora de seis livros publicados "Flor Essência" (poesia 2004), "Meus Outros” poesia e prosa 2007); "Entre as Águas" (prosa 2011); “A linguagem dos Pássaros” (poesia Editora Patuá 2014) ; “Vozes & Recortes” (prosa Editora Penalux 2015) ; “A licitude dos olhos” (contos Editora Penalux 2016). Participante de quatro coletâneas editadas em Portugal: "A arte pela escrita III" (2010) "Cartas ao Desbarato" (2011) , "A arte pela escrita IV" (2011) e “A arte pela Escrita VIII” (2015) . Consta com trabalhos de prosa e poesia nas “Antologias Febraban” (2007) e (2009) ;  “Saciedade dos Poetas Vivos” Vol 11 (2010) ; “Blocos onLine”; “Contologia” da Revista “Arraia PajeurBR 4, (2013); “Antologia Poética 29 de abril o Verso da Violência" (Editora Patuá 2015)”; “Sobre lagartas e borboletas” (Selo Editorial Scenarium 2015) e “Aquafúria - Uma antologia de Poetas Sedentos" (2015).

Tem ainda trabalhos publicados em vários portais e sites da Internet: “Cronópios”, “Histórias Possíveis”, “Blocos on line”, “Musa Rara”, “Diversos Afins”, “Germina – Revista de Literatura e Arte”, “Escritoras Suicidas”, “Mallarmargens – Revista de poesia e arte contemporânea”, Revistas “Fénix-Logos”- PT, “EisFluências”- PT, “Soletras” de Moçambique, “Vitabreve” – Revista de Arte e Cultura, “Acrobata” número 4, de Teresina-PI. É colaboradora do blog “Dardo”. Participa do portal lusófono litero-artístico “EscrtArtes”. Integra a Academia Cascavelense de Letras. Edita o blog http://m-eusoutros.blogspot.comE-mail: t.teretavares@gmail.com

 

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