Sumi-ê de Nydia Bonetti
Os poemas de Sumi-ê, de Nydia Bonetti, inventam um jardim, que não é o zen japonês, mas tenta simulá-lo, com seu rigor de pedras. Surgem, aqui e acolá, uma...
Revista digital de Arte e Cultura
Os poemas de Sumi-ê, de Nydia Bonetti, inventam um jardim, que não é o zen japonês, mas tenta simulá-lo, com seu rigor de pedras. Surgem, aqui e acolá, uma rosa, um lírio, ou um girassol. O restante são “flor”, assim como as árvores são uma “árvore” inominada,a representação da arvoridade, ou seja, sua essência. A impessoalidade deve-se à tentativa de ser fiel à técnica do sumi-ê: com poucos e breves traços desenhar um objeto.
Os aquarelistas japoneses buscam captar a essência de um objeto através das pinceladas rápidas. A técnica para obter essa essência não é delinear o objeto e sim captar seu “espírito” ou seu vazio.
Com seus poemas, Nydia quer se aproximar deste vazio. Vazio por vezes confundido com melancolia, mas em que ressoa o mono no aware, tristeza que vem da consciência da transitoriedade da vida.
Ao tomar consciência desta transitoriedade, o mujo, a poeta se esforça para imitá-la e fazer o espírito transcender a paisagem ilusória do mundo. Contemplar a natureza é um meio de chegar à essência da natureza humana.
Nydia é uma admiradora das artes japonesas. Por isto busca aproximar sua poética dos conceitos do haiku. A ideia não é seguir à risca as regras da poesia tradicional japonesa, mas apreender seu clima sem sentimentalismos.
O tema da flor poderia conduzir ao equívoco de que se trata de uma poesia romântica, que segue uma tradição simbolista. Uma menção à “flor azul” faz lembrar Novalis, mas não é nada disto. Neste Sumi-ê, seguimos a poeta em sua tentativa de desenhar A Flor. Para ela, aparentemente, esta tentativa se frustra. Para nós, leitores, a rota apresenta sua delicada e intensa paixão.
http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=228
*Marilia Kubota é escritora e jornalista, Mestre em Estudos Li-terários pela UFPR. Trabalha com oficinas de criação literária na Fundação Cultural de Curitiba desde 2005. É autora dos livros de poesia Esperando as bárbaras (2012) e Selva de Sentidos (2008) e organizadora da antologia Retratos Japoneses no Brasil (2010). Participou de 10 coletâneas, publicadas no Brasil, Portugal, Argentina e Turquia.