Moda e Cinema Sintonia perfeita

Ana Lúcia Vasconcelos



O Diabo Veste Prada, o filme que fez enorme sucesso em todo o país em 2006 quando foi lançado e ainda hoje nos telecines, com a com a fabulosa Meryl Streep fazendo a poderosa inglesa Anna Wintour, editora chefe da Vogue da América que revolucionou o jornalismo de moda desde que assumiu este cargo, veio retomar, e desta vez com força total, o famoso binômio moda e cinema que já deu muito pano para mangas na mídia. Novidade? Não, simplesmente o cinema voltando à sua velha forma de grande lançador de moda, talvez o maior de todos os tempos.

Só para recordar alguns filmes que arrebentaram neste quesito podemos citar Evita, superprodução da mega star Madonna que se diga não levou o Oscar de melhor figurino, aliás, não levou Oscar algum. Mas em compensação o look Evita esteve nas vitrines sofisticadas da Quinta Avenida de Nova York e foi, durante todo o ano de 1996, copiado e recriado pelos estilistas de todo o planeta.

Isso aconteceu também com Out of África (Entre dois Amores) na década de 1980, produção do americano Sidney Poitier com Meryl Streep e Robert Redford: o figurino em tons cáqui estilo safári, criado pela figurinista Milena Canonero invadiu as vitrines do mundo inteiro. Era o look África imperando como havia sido um pouco antes, o estilo barroco lançado por Amadeus e como foi um pouco depois, o estilo marinheiro deslanchado por Querelle de Fasbinder. E está acontecendo agora recentemente com o filme brasileiro que está arrasando nas bilheterias do país: Tropa de Elite, que ganhou o Urso de Ouro em Berlim, já que a mídia tem anotado pedidos cada vez mais constantes de roupas militarizadas

Mas essa junção cinema moda não é recente. Vem dos começos da chamada sétima arte, especialmente das décadas de 30, 40 e 50 quando não havia ainda a televisão e ele reinava absoluto. Não apenas os figurinos eram copiados, mas os gestos dos atores, a maneira de fumar, de sentar, de andar eram imitadas. Das telas, as cenas eram divulgadas via imprensa, pelas revistas que faziam as delicias da classe média, que, ontem como hoje, pagam para saber como vivem seus artistas prediletos.


As atrizes tinham que
ser sensuais

Tudo começou na fase áurea dos musicais de Holywood, fase das melosas love stories quando o cinema foi não apenas o lançador, mas o ditador da moda mundial. Especialistas atribuem isso ao fato de ser o cinema a arte que, literalmente fazia parte da vida das pessoas. Havia para ele um grande público, como hoje há para a televisão. E mais: havia uma grande quantidade de revistas de cinema que além de divulgar os filmes, promoviam os modelos usados por atrizes e atores, ou seja, um prato cheio para as mulheres copiarem e tentarem imitar com tecidos semelhantes, os modelos usados por sua estrela preferida.
As décadas de 30, 40 e 50 marcaram especialmente um comportamento especial para as estrelas de Holywood: elas tinham que ter o famoso sex-appeal, ou seja, deviam ser sensuais, ao mesmo tempo manter a imagem de boa moça. Tarefa difícil, não? E quem disse que era fácil ser uma estrela? Por estas e outras foi que os big boss de Holywood chegaram a um consenso: Lana Turner usaria no filme They Won't Forget um suéter discreto, que afinal de discreto não tinha nada, considerando o busto da atriz.

O efeito tão avassalador que depois que a foto da publicidade do filme apareceu, o suéter ficou definitivamente celebrizado e Lana vai entrar para a história do cinema como a garota do suéter. Na verdade Lana preferia os sapatos e chegou a ter uma casa com um quarto cheio deles. Mas isso é uma outra estória. O fato é que daí para frente proliferaram nos Estados Unidos os concursos de Miss Suéter, cujas vencedoras eram meninas parecidas com a atriz. 
Já Veronika Lake a atriz responsável pelo lançamento da moda dos cabelos cobrindo os olhos não teve a mesma sorte. Quando a Segunda Guerra foi deflagrada o próprio governo dos Estados Unidos teve que apelar para que a atriz mudasse o corte já que as mulheres requisitadas para trabalhar nas fábricas e que copiavam seu estilo, corriam o risco de sofrer acidentes nas máquinas. Veronika sucumbiu ao apelo, mudou o corte e viu seu sucesso esvanecer-se. E por falar em cabelos, duas atrizes vão ficar famosas por causa deles: a atriz Glória Swanson que os adotou curtos com uma tiara, moda lançada pela famosa bailarina Irena Castle falecida em 1989 que marcou os anos 20, e Jean Harlow – a primeira loura platinada a influenciar milhares de mulheres em todo mundo foi outra atriz que ficou famosa por causa dos cabelos. Ambas foram seguidas por milhares de fãs.

E Greta Garbo, nascida em Estocolmo, vai tornar-se a imagem da mulher perfeita não por suas roupas, ainda que qualquer coisa que vestisse a tornasse maravilhosa, mas com a maquiagem que a partir dela ficou popularizada. E que dizer de Marlene Dietrich que vai entrar para a história do cinema mundial, depois de aparecer no filme Marrocos cantando e mostrando suas lindas pernas com um traje que a tornaria célebre: casaca e cartola. O evento foi um escândalo para muitos puritanos e ela aproveitou para radicalizar: passou a andar pelas ruas de Holywood de terno cinza, talhado pelo melhor alfaiate da cidade, de gravata e boina cobrindo seus belos cabelos louros. E não parou por aí: foi a uma premiére no Teatro Baltimore de smoking e chapéu de feltro negro de aba molde. Era uma mulher exótica, livre para fazer o que quisesse.

E por falar nisso não foi apenas Marlene Dietrich a transgredir a ordem da moda: Greta Garbo, Joan Crawford, Katherine Hepburn e até mesmo Lauren Bacall optaram durante um tempo por um look masculino. O que, aliás, aumentava o charme dessas atrizes famosas. 
Mas nem só de trajes masculinos Marlene Dietrich se vestia: na verdade sua imagem diáfana em robes esvoaçantes e leves plumas ficou indelevelmente marcada nos corações dos seus fãs. Aliás, a lista de mulheres fatais da época dos grandes filmes de Holywood é extensa: Rita Rayworth, por exemplo, manteve durante toda a sua carreira uma aparência estudada para passar a imagem de mulher liberal. Marilyn Monroe encarnou a geração sexy do pós-guerra, Brigitte Bardot foi um símbolo que se transformou em fenômeno social. Tudo o que vestia ou fazia virava moda.

E o que falar das duplas famosas, os casais como Lauren Bacall e Humphrey Bogart um dos mais conhecidos e imitados do cinema norte americano que viveu onze anos juntos e apaixonados: só a morte de Bogart os separou. Tudo o que faziam era imitado pelos fãs. As mulheres falavam com a voz rouca de Lauren e os homens seguravam o cigarro com quatro dedos-gestos marcante de Bogart especialmente nos filmes O Falcão Maltês e Casablanca. Conta-se, aliás, que Bogart imitava os heróis que vivia na tela, fossem detetives ou vilões que o tornaram famoso. Entrava nos bares, bebia muito, bancava o valentão, apanhava e ia para casa com o rosto sangrando. E Lauren a esposa fiel o acompanhava nessas fantasias. E não esquecer que ele lançou a moda dos trench coats (capas) celebrizada nos seus filmes policiais assim como do célebre Summer usado no romântico Casablanca.

E quem não se lembra de Ginger Rogers e Fred Astaire? Pois o começo da carreira de Ginger Rogers não foi fácil: ela não queria ser conhecida só como dançarina, pretendia provar seu talento dramático. E sua chance surgiu com o filme Kitty Foyle que lhe deu o Oscar de interpretação e que lançou a moda dos vestidos de bolinha branca. Mas apesar de ter sido durante anos, nas telas do mundo inteiro, um dos principais sex simbols do cinema norte americano, Ginger Rogers nunca forneceu material para fofocas: na verdade um sensualismo contido foi sempre a sua marca que, no entanto nunca aceitou se despir ou atuar em papéis de vamp. E especialmente ela foi responsável pelo lançamento de uma gíria que ficaria célebre na época: a frase acompanhada do gesto respectivo no filme Young Man of Manhattan: cigarrete me, big boy que deixava as plateias masculinas eletrizadas.


“A moda é uma linguagem”

Atente-se que a moda lançada pelo cinema por atores e atrizes não era fruto do acaso ou de ideias geniais inspiradas pelo andar ou belas formas. Ao longo de cinco décadas, a assinatura de Edith Head, com certeza a mais famosa figurinista do cinema americano, foi sinônimo de modismo: a senhorita Head, como era chamada, ganhou oito Oscar pelas roupas que criou para as mais importantes estrelas do cinema como Bette Davis, Elisabeth Taylor, Audrey Hepburn. Através do cinema suas criações influenciaram o guarda roupa feminino especialmente nos anos 40 e 50. Ela dizia: “A moda é uma linguagem. Alguns sabem aprendê-la, outros jamais conseguirão mexer com ela”.

Edith conta que nos primeiros anos, ela e o pessoal da Paramount vestiam os artistas sem pensar em qualquer coisa de humano: a época era de extravagâncias. “Só mais tarde, dirá, descobrimos que os figurinos usados pelos artistas tinham parte importante no êxito dos filmes”. Foi ela quem inventou os famosos sarongs da atriz Dorothy Lamour para o filme A Princesa da Selva de 1936 e foi responsável pela moda das grandes e coloridas estamparias tropicais nas roupas femininas. Além disso, Edith foi mestra na arte de camuflar ou realçar imperfeições de algumas atrizes.
Quando vestiu Audrey Hepburn no filme A Princesa e o Plebeu realçou a magreza da atriz e seu pescoço de gazela com longos decotes e calças tipo toureiro, mostrando seus pés grandes em sapatos altos. “Detalhes que imediatamente viraram moda”, diz o crítico Rubens Ewald Filho. Foi naturalmente Edith Head quem desenhou o vestido de noite tomara que caia usado por Elisabeth Taylor no filme Um Lugar ao Sol. A saia era de tule branco sobre cetim verde e o busto coberto de violetas brancas. “Outro sucesso em todo mundo”, lembra ainda Rubens Ewald.

Na verdade o prestígio de Edith cresceu junto com a Paramount, mas a pedido de Bette Davis ela foi para a Fox para criar especialmente o guarda roupa da atriz para a A Malvada. Dizem os críticos que além da competência de Edith e a beleza das roupas que criava, o Oscar que ela ganhou por este filme se deve grande parte a um acidente. O vestido que Bette deveria vestir numa festa ficou pronto na última hora e, portanto foi para a cena sem uma única prova. Quando La Davis o vestiu a alça caía sobre os ombros. Não havia tempo para reparos e a atriz resolveu que iria usá-lo do jeito que estava. “O resultado foi uma sequencia inesquecível que definitivamente determinou o Oscar daquele ano para Edith”, lembra Rubens Ewald Filho.

Mas o público não copiava apenas os vestidos, sapatos, boinas e decotes, imitavam também os trejeitos dos atores e atrizes. Durante anos a atriz Bette Davis foi imitada no jeito de fumar da sua personagem no filme A Estranha Passageira por mulheres e travestis em shows de teatro ou boates nos Estados Unidos. Ela mesma fez uma sátira da cena num programa de televisão, fumando dois cigarros ao mesmo tempo e exagerando seu inconfundível tom de voz.
E quando o problema não era a roupa, mas a ausência dela que provocava frisson no público fiel ao cinema? Os críticos citam um exemplo curioso: quando Clark Gable deixou seu peito nu, no filme Aconteceu Naquela noite quase quebrou as fábricas de camisetas dos Estados Unidos. Afinal ele estava rompendo com uma tradição de anos e muito cultivado pelos homens norte americanos que era justamente usar a camiseta debaixo da camisa. O que prova, aliás, que o público não prestava atenção só nas mulheres, mas nos homens que apareciam nas telas.

O mito da beleza 
e da rebeldia

E por falar em homens, não há como esquecer o belo Rodolfo Valentino admirado pela beleza e galanteria com as mulheres. E Marlon Brando e James Dean que lançaram a moda do casaco de couro, dos jeans, das motos e da rebeldia, sem falar naturalmente do charme insuperável? Foi num filme dirigido por John Paxton, baseado num fato real em que Brando fazia o líder de um bando de motoqueiros que espalhava o terror numa cidadezinha americana, que o ator cria o tipo do anti-herói, no que é seguido mais tarde por James Dean. Brando explora ao máximo as carências, o cinismo e a rebeldia brutal do personagem quase ao nível da caricatura. E seu Johnny vira modelo, símbolo de rebeldia. O filme produziu tamanho impacto que chegou a ser proibido na Inglaterra até 1968.

Mas foi com o angelical James Dean que o mito do adolescente rebelde vai ser definitivamente incorporado. O célebre ator de apenas três filmes: Vidas Amargas, Juventude Transviada eAssim Caminha a Humanidade, este último inacabado por ele, já que morreu durante as filmagens, é considerado por Paulo Veríssimo, estudioso do mito, como o último deus de Holywood. Segundo Veríssimo o verdadeiro filme de James Dean foi Juventude Transviada, cujo personagem ele domina, incorporando seus dados pessoais, sua dinâmica corporal. Em Juventude Transviada ele interpreta a si mesmo a ponto de ter dito “Jim Stark sou eu”. James Dean ficou para sempre como símbolo da juventude rebelde, inadaptada, inconformada com a sociedade e no rastro de sua morte nasceu, segundo o crítico de cinema Sérgio Augusto a “mais duradoura idolatria que a sociedade de massa manipulou”.
François Truffaut que tinha a mesma idade de Dean à época da sua morte, escreveu em artigo noCahiers du Cinema: “Em James Dean a juventude atual se identifica por inteiro, não tanto por causa da violência, do sadismo da história, do pessimismo e da crueldade, mas por outras coisas infinitamente mais simples e corriqueiras: o pudor dos sentimentos, a fantasia permanente, pureza moral, o gosto eterno da adolescência pelo desafio, pela embriagues, pelo orgulho e mais, o seu desgosto de se sentir fora da sociedade, pela recusa e pelo desejo de se integrar nela e finalmente pela aceitação e pela recusa do mundo como ele é ”.

Com James Dean, dizem os estudiosos do mito, o jovem atinge a maioridade. Ser um jovem na década de 50 era ser diferente dos pais, do blue jeans à cabeça. Data daquela época a expressãoconflito de gerações que Holywood explorou ao máximo. Nas telas uma torrente de crises de identidade, ansiedades sexuais reprimidas, lares desfeitos, pais castradores e filhos carentes soterrou por uns tempos as questões sociais. Foi James Dean quem lançou a moda do blusão de couro que virou náilon no Brasil para os jovens adoradores do ídolo que imitavam também olhares de esguelha, sorrisos espasmódicos e outros tiques que James Dean por sua vez copiava de Marlon Brando.

Nova estética
marca os anos 80


Plumas, vestidos suntuosos, maquiagem carregada, cabelos complicados, nada disso vigora mais na estética dos anos 80. É Diane Keaton a atriz, a anti estrela da década quem melhor personifica o oposto dos mitos holywoodianos dos anos 30, 40 e 50. Ela é tímida, recusa cenas de nudez e se veste de um jeito oposto aos colantes de Rita Hayword em Gilda por exemplo. Sua moda está ligada a uma conquista lúcida da mulher que não se permite ser artigo de consumo geral. Veste amplas saias, com botas, camisa e paletó e chapéu. Sua moda é feminina, apesar do tom masculino. A linha de suas roupas é sempre esportiva, sóbria. Os detalhes requintados ficam com as misturas de seda com lã, veludo com crepe, algodão rústico harmonizando com a malha e calça Lee. E os acessórios, chapeuzinho, óculos, echarpe, blazer, lenços e até relógio e cigarro.
O cabelo está sempre solto. Mesmo quando preso, foge de qualquer molde bem comportado. A roupa de Diane Keaton é dinâmica, cercada de todas as neuroses as quais reagem. Diane Keaton não é apenas o símbolo, mas o novo mito de transformação dos anos 80. Oscar de melhor atriz em Annie Hall, de Woodie Allen, ela influenciou milhares de fãs que começaram a usar óculos Annie Hall, capuz, calças largas, jaquetas e camisas, gravatas de bolinhas e de repente um estilo de moda foi consagrado.

Tentando uma análise da influência do cinema brasileiro no modo de vida das pessoas, o cineasta João Batista de Andrade (autor de vários filmes de sucesso entre outros O País dos Tenentes) lembra de algumas atrizes brasileiras que lançaram moda, ou seja, criaram um tipo que virou moda. Sonia Braga, especialmente no A Dama do Lotação teria criado, segundo o cineasta, um estilo com seu tipo, seu cabelo abundante. Na década de 50 as atrizes Ítala Nandi e Norma Benguell, a primeira no teatro e a segunda no cinema (O Rei da Vela e Os Cafajestes, respectivamente) foram as primeiras a aparecer nuas e ainda: foram modelos de mulheres independentes, liberais. É lógico, a mais famosa de todas elas virou musa: a lindíssima Leila Diniz que morreu precocemente, mas que foi, de fato a grande responsável pela introdução de importantes mudanças no comportamento da mulher grávida de biquíni.

Compartilhando a opinião de João Batista, a cineasta Suzana Amaral diretora do premiado A Hora da Estrela e autora de mais de 50 documentários para a televisão, acredita que hoje o cinema tenha perdido para a televisão, o monopólio que exercia nas décadas de 30, 40 e 50 em relação à imposição de moda e comportamento. “Eu mesma na minha adolescência pedia para minha mãe fazer o vestido da atriz dos filmes que via. Lembro-me que a gente recortava as fotos das revistas e usava como modelo”.
Mas ao contrário dos cineastas de Holywood, Suzana Amaral não tenta lançar moda com as roupas que cria para vestir seus atores e atrizes. Quando escolhe o figurino das suas personagens tem sempre a preocupação de reforçar um aspecto da personalidade dela. “Enquanto na vida comum as pessoas escolhem suas roupas em função da utilidade dela, ou para chamar atenção a atrair o sexo oposto, para mostrar status, etc.no teatro e no cinema as roupas têm função estética e dramática. Aquela roupa que a Macabéa usa no filme eu ajudei a criar junto com o Clóvis Bueno e sem dúvida ela se tornou parte integral da personalidade da personagem”.

Aliás, Suzana Amaral acredita que nesta área ninguém igualou Charles Chaplin que conseguiu criar uma roupa que ficou para sempre como parte integrante da sua personalidade. Hoje, ela tem certeza, o cinema perdeu o lugar de mito catalisador de padrões de comportamento. “Morei em Nova York e constatei que o cinema só influencia quando deliberadamente se faz, através de um filme, a promoção de um produto, de uma roupa. Por exemplo, com o ET, o Spielberg decidiu fazer um marketing do boneco. Já com Out of Africa houve um marketing das roupas. Antigamente acontecia porque acontecia, a coisa era mais pura. É preciso não esquecer que naquela época o cinema queria passar o american way of life era a época da Recessão".

Carisma e Merchandising

O crítico e poeta Décio Pignatari reafirma as opiniões dos dois cineastas. Para ele hoje o cinema não dita mais moda, em primeiro lugar porque o seu público é composto por uma minoria de massa, isto é por pessoas com certo nível de cultura que têm outros interesses. E depois porque os modelos lançados hoje não podem ser seguidos como é o caso de Rambo. Mas ainda em menor medida ele vê alguns filmes lançando moda: “Spielberg, por exemplo, lança moda infantil, ainda que seja parte de uma campanha de marketing dirigida”. Mas na verdade não só Spielberg hoje lança moda através do cinema.
O filme Querelle do falecido Fasbinder, baseado no romance Querelle de Brest do controvertido francês Jean Genet, lançou a moda de marinheiro sem querer: calças brancas e camisas de listras e as longas capas. Da mesma forma o filme Out of Africa (Oscar de melhor filme de 1985) lança moda do verão de 1987: o saharienne, tipo de roupa usado pelo colonizador inglês na África. E na seqüência o look Evita, que invadiu as vitrines do mundo. O que significa isso? Uma revivescência dos velhos tempos? Ou apenas uma bem planejada campanha publicitária nos moldes dos anos 80, em que tudo virou matéria de propaganda das empresas.

O crítico Edgar Pereira, tentando uma aproximação dos áureos tempos de Holywood com a atualidade diz que lá tudo dependia do carisma de cada um daqueles super stars. Era uma coisa mais de individualidade, de sensibilidade de determinado ator ou atriz. "Hoje a coisa está dirigida, tudo na base do merchandising. Quando o diretor pensa numa cara nova ele a imagina com a roupa junto. Antes tudo acontecia muito naturalmente: a capa do Humphrey Bogart fazia parte de sua personalidade, batia no público de um jeito muito puro. Não havia atravessadores da magia. Na mesma linha Edmar lembra os cabelos de Greta Garbo, os cachinhos de Shirley Temple e até a sensualidade de Marlon Brando: tudo era mais direto.

Hoje quando o filme sai do forno holywoodiano já sai todo planejado para vender a flecha doRambo, o blusão de couro, a luva de boxe. No caso de Querelle e Out of África o que ocorreu especialmente no caso do primeiro foi uma reverberação ou seja, a produção do filme não lucrou em cima do sucesso das roupas que lançou ou inspirou. “As roupas do filme inspiraram estilistas que criaram moda em cima. Isso pode acontecer, mas em geral tudo já vem planejado e o público participa de certa forma do jogo: ele se deixa manipular como se fosse regra deste mesmo jogo. E hoje as coisas são muito rápidas, descartáveis. Naquele tempo parece que a coisa não era proposital, as coisas duravam mais. Basta dizer que até hoje lembramos das roupas e cabelos dos atores e atrizes que nos impressionaram. Eles ficaram clássicos ”.

Na Internet

http://www.youtube.com/watch?v=eCJnRkyCnVw

https://www.google.com.br/search?q=moda+e+cinema&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=lln9UoO8IIfIsASV14DgBA&sqi=2&ved=0CDIQsAQ&biw=1024&bih=649

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