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Revista digital de Arte e Cultura
Para homenagear os 90 anos da artista plástica Alice Brill (1920- 2013) o SESC Pompeia de São Paulo abriu no dia 11 de março de 2010 a exposição O Batik de Alice Brill- mostra que reuniu diversos aspectos do trabalho da artista nesta técnica, apresentada no espaço das Oficinas de Criatividade do SESC Pompéia até o dia 2 de maio juntamente com parte do histórico de Alice Brill no campo das artes e das origens do Batik de Java. A proposta da curadora da exposição Silvia Czapski foi enfatizar o diálogo do batik desenvolvido pela artista com as demais técnicas no campo das artes com as quais ela também trabalhou.
Na verdade Alice Brill começou a fazer uso desta técnica em meados dos anos 50, quando o batik ainda era desconhecido no Brasil: aplicando-o a novos materiais e suportes originou novas maneiras de trabalhar a técnica. Idealizada como primeira homenagem aos 90 anos de Alice, a mostra destaca uma das mais marcantes facetas da artista: a transformação de uma técnica milenar artesanal que, nas mãos dela ganhou contornos e formas únicas. Foram anos de pesquisas, para chegar aos resultados por ela esperados, que refletem seu modo muito particular de ver o mundo e a arte.
Na parede que faz face à oficina de gravura, por exemplo, serão apresentados: uma matriz original em batik (feita com uso do material Abdeck, específico para serigrafia); uma serigrafia sobre tecido, que tem como base o batik colorizada individualmente e mais duas sobre papel, também colorizadas individualmente, tornando-as obras únicas. Defronte à oficina de arte têxtil, são mostradas algumas roupas executadas pela artista nos anos 60, como um vestido de batik sobre seda, que ela mesma usou em eventos especiais. Na parede da sala de artes gráficas será possível ver um comparativo dos efeitos que diferentes técnicas são capazes de proporcionar: trabalhos com o mesmo tema – o isolamento e o tempo – em guache sobre papel, acrílico sobre chapa de Eucatex e batiks sobre papel de arroz.
Na parede da marcenaria é possível ver o trabalho em batik sobre tecido dos anos 60 e mais amostras do batik sobre papel de arroz, que só Alice Brill desenvolveu. Por fim, frente à parede de técnicas mistas do espaço onde estará a exposição, alguns trabalhos em técnica mista sobre papel, em formato menor, que usam a cera como componente. Alguns deles trazem a exuberância colorida que caracterizou a artista em uma de suas fases mais recentes desenvolvida nos anos 2000. Tudo isso, intermediado por textos explicativos da curadora Silvia Czapski e citações da própria artista.
Múltiplos talentos
Pintora, gravadora, desenhista, fotógrafa, filósofa, escritora, Alice Brill, filha única do artista plástico alemão Erich Brill e da escritora e jornalista Marte Brill, migrou para o Brasil em 1934, aos 13 anos, devido à ascensão do nazismo em seu país de origem. Decidida a abraçar o ofício paterno, ainda muito jovem, foi convidada a participar do Grupo Santa Helena (1940). Em 1946 e 1947, com bolsa de estudo, cursou desenho, pintura, escultura, fotografia, história da arte, literatura, filosofia e gravura nos EUA. Retornando ao Brasil, estudou com Yolanda Mohaly e, no Museu de Arte de São Paulo, com Poty (gravura) e Hansen Bahia (xilogravura).
Caso Herzog
Com equipamento trazido dos EUA abraçou a fotografia nos anos 50, como forma de sobrevivência. Em pouco mais de dez anos, produziu mais de 14 mil negativos, entre portfólios para artistas, retratos infantis, fotorreportagens e documentação sobre São Paulo, que ganharam fama na década de 90. Alice Brill foi uma das homenageadas da Coleção Pirelli/MASP (1997), teve imagens incorporadas ao acervo digital do Itaú Cultural, e escolhidas para a mostraFantasia Brasileira, o balé do IV Centenário, que inaugurou o projeto do SESC Belenzinho (1998), além de mostras individuais e coletivas realizadas pelo Instituto Moreira Salles, que desde o ano 2000 detém seu arquivo de negativos. Em meados dos anos 50, iniciou a produção do batik javanês no Brasil, com a artista plástica Eva Lieblich Fernandes, que aprendeu a técnica na Áustria.
Ao deixar a fotografia nos anos 60, Alice Brill aprofundou-se no artesanato milenar. Inicialmente aplicado do jeito tradicional, para roupas, painéis em tecido, entre outros, pesquisou novos métodos e materiais. Angariou, já nesta primeira fase, prêmios como a pequena e a grande medalha de prata no Salão de Arte Moderna de São Paulo (respectivamente 1961 e 1962). Mais tarde, testou novos suportes, chegando a formatos e efeitos únicos, com o batik sobre papel de arroz, com uso de guache e tinta acrílica. Também adotou a cera em outras técnicas, da aquarela à serigrafia.
Ao longo de sua carreira realizou mais de cem exposições, individuais e coletivas, no Brasil e Exterior (EUA, Alemanha, Suíça, Israel, Japão, entre outros) obtendo vários entre eles o Prêmio Aquisição do XIV Salão Paulista de Arte Moderna de São Paulo (Pintura - 1964). Hoje tem obras em importantes acervos particulares e museus.
Fundadora do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP, junto com o marido, Juljan Czapski, que mais tarde foi membro da diretoria do Museu), do Clube dos Artistas e Amigos da Arte de São Paulo (da qual foi vice-presidente em 1975-56) e da Associação Brasileira de Pesquisadores em Arte, entre outros, a artista retomou os estudos formais apenas na idade adulta. Formou-se em Filosofia Pura pela PUC/SP em 1975. Depois fez o mestrado, em Estética, na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (FFCL/USP).
Alice Brill é autora de: Mário Zanini e seu Tempo (Perspectiva, 1984) resultado da tese que defendeu em 1982. Em 1993, aos 72 anos, concluiu o Doutorado, também em Estética, na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP), com a tese Viagens Imaginárias - transformação de uma técnica milenar em linguagem contemporânea sobre o batik.Escreveu ainda: Da Arte e da Linguagem (Editora Perspectiva - 1988): compilação de artigos publicados especialmente no jornal O Estado de São Paulo, e Samson Flexor - do Figurativismo ao Abstracionismo, lançado em 1990: co-edição com a Indústria Freios Knorr, MWM Motores Diesel e Edusp, premiado como Melhor Livro do Ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), e relançado em 2005 pela Edusp. Entre outras colaborações, é autora do capítulo sobre Artes Plásticas no livro O Expressionismo, de Jacó Guinsburg (org), publicado em 2002 (Editora Perspectiva). Alice – que foi casada por mais de 60 anos com Juljan Czapski (1925-2010), com quem teve quatro filhos – também se dedicou ao ensino, lecionando arte e criatividade nas Faculdades de Filosofia Ciências e Letras Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu (1976/81) e Faculdade Santa Marcelina (anos 1990), em São Paulo tendo mantido alguns alunos em seu atelier.
O batik de Alice Brill
O batik é uma técnica artesanal milenar, que alcançou seu mais alto grau de desenvolvimento na Ilha de Java, Indonésia. O batik tradicional revelava raízes mítico-religiosas, apresentando uma simbologia de cores, padrões e usos que, curiosamente, foi incorporando influências de outros povos e civilizações que mantiveram relacionamento com os javaneses no decorrer da história, em parte por meio de relações comerciais. Sua produção, na forma tradicional consiste num processo de sucessivos tingimentos de tecido – do tom mais claro para o mais escuro – a cada vez com a impermeabilização prévia de partes do pano que se quer deixar na cor original (ou manter o tom dos tingimentos anteriores).
Para impermeabilizar, usa-se cera quente, aplicada com um instrumento específico – o tjanting (com formato de cachimbo, traz um orifício por onde escorre a cera quente). Na segunda metade dos anos 50, Alice Brill começou a trabalhar com a técnica junto com a artista plástica Eva Lieblich Fernandes, que aprendeu o Batik durante uma temporada em que permaneceu na Áustria. Ambas começaram a desenvolver novas formas de produzi-lo em tecido, por exemplo, passando a usar pincel, ao invés de tingimentos cor-a-cor, e buscando meios de fixar melhor as cores. A técnica ganhou destaque em mostras, como a Bienal de Artes Aplicadas do Uruguai, despertando polêmicas e admiração.
Biografia retirada dos arquivos do Instituto Itaú Cultural
Nascimento
1920 - Colônia (Alemanha) - 13 de dezembro. Naturaliza-se brasileira
Vida Familiar
Filha do pintor Erich Brill
Cronologia
Fotógrafa, pintora, gravadora, desenhista
1934 - Vem para o Brasil, fugindo do nazismo e fixa residência em São Paulo
1936/1937 - Cursa a São Paulo Graded School
1938/1942 - Freqüenta o Grupo Santa Helena, participando regularmente das sessões de modelo vivo no ateliê e das excursões de pintura ao ar livre
1940/1950 - Estuda com Rossi Osir (1890 - 1959), Quirino da Silva (1897 - 1981), Bonadei (1906 - 1974) e Yolanda Mohalyi (1909 - 1978)
1946/1947 - Com bolsa de estudos em artes e fotografia, faz cursos de desenho, pintura, fotografia, história da arte, filosofia, literatura, arte indígena, gravura e escultura na University of New Mexico, em Albuquerque, Estados Unidos
1947 - Faz, com bolsa de estudos, curso de gravura e pintura na Art Student's League, Nova York, e trabalha como fotógrafa
1948 - De volta ao Brasil, estuda xilogravura com Hansen Bahia (1915 - 1978)
1948/1960 - Fotografa arquitetura e obras de artes plásticas para a revista Habitat
ca.1950 - Faz retratos, principalmente de crianças, artistas e informais. Faz álbum com retratos da família Lunardelli
1950 - Faz curso de gravura com Poty (1924 - 1998), no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP
ca.1952 - Realiza reportagens sobre a cidade de São Paulo, a pedido do professor Pietro Maria Bardi (1900 - 1999)
1954 - Publica fotos nos livros Isto é São Paulo e Isto é Bahia da Editora Melhoramentos
1956 - Fotos publicadas no livro The Arts in Brazil, editado por Editora Del Milone
1959 - Fotos publicadas no livro Brazil - Portrait of a Great Country, Editora Colibris de Stefan Geyerhahn
1970 - Fotos publicadas no livro Profile of the New Brazilian Art, editado pela Livraria Kosmos
1972/1976 - Estuda filosofia pela Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP
1975/1980 - É professora de arte na Faculdade Nossa Senhora do Patrocínio, em Itú, São Paulo
1977/1987 - Escreve o artigo A função da fotografia na arte contemporânea, publicado no Suplemento Cultural do jornal O Estado de S. Paulo
1982 - Defende o mestrado em estética pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP, com a dissertação Aspectos da obra de Mario Zanini: do Grupo Santa Helena as bienais, sob orientação de Otília Beatriz Fiori Arantes
1984 - Publica o livro Mario Zanini e Seu Tempo, pela Editora Perspectiva
1987 - Fotos publicadas no livro Em Torno da Fotografia no Brasil, de Pietro Maria Bardi, editado pelo Banco Sudameris
1988 - Publica Da Arte e da Linguagem, editado pela Perspectiva
1990 - Organiza e publica Samson Flexor - Do Figurativismo ao Abstracionismo, Editores MWM, Indústrias Knorr e co-edição da Edusp, premiado como melhor livro de arte do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA, em 1991
1992 - Participa do evento Encontro com o Artista, no Itaú Cultural
1993 - Citação e publicação de 4 fotos no livro Canto a la Realidad - Fotografia Latino-Americana 1860-1993, de Erika Billeter, Lunwerg Editores
1994 - Defende o doutorado em artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo- ECA/USP, com a tese Viagens imaginárias: transformação de uma téccnica milenar em linguagem contemporânea, sob orientação de Elza Ajzenberg
Críticas
"Todo esse registro visto hoje tem a nostalgia da cidade outrora mais elegante e harmoniosa. Alice Brill, pela formação artística mais acentuada e pelas influências diretas da pintura e do desenho, fotografou a cidade de São Paulo nos anos 50 de maneira mais construtiva e gráfica. Seu olhar, sentido privilegiado do nosso século e principal mediador entre o sujeito e a realidade objetiva e dinâmica, é mais poético, refinado e transformador".
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Aqui uma mostra da artista realizada em Itu em 2006
www.aipa.org.br/alice
E por falar em Pompeia veja as fotos que Alice fez do bairro paulistano onde está o Sesc Pompéia
http://flanelapaulistana.com/?tag=bairro-pompeia
Sobre o autor:
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