Masp espaço aberto à arte e cultura

Ana Lúcia Vasconcelos


    

        Unico museu da América do Sul a apresentar uma visão panorâmica da arte ocidental, desde o gótico até os dias de hoje, o MASP- Museu de Arte de São Paulo reune em seu acervo mais de mil obras de valor incalculável que levam assinaturas de artistas como Rafael, Velásquez, Bosch, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Rembrandt e Picasso. O Masp nasceu em outubro de 1947 pelas mãos do jornalista e embaixador Francisco de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados que cedeu mil metros do edificio de sua empresa na Rua Sete de Abril, para o primeiro espaço cultural , de porte internacional da cidade de São Paulo.

     “Começamos expondo as primeiras aquisições ” me conta o professor  Pietro Maria Bardi * quando o entrevistei em outubro de 1985 por ocasião do aniversario do museu. “ Eram obras originais acompanhadas de folhetos com ilustrações e comentários em texto de fácil leitura. Naquele tempo eram rarissimos os livros de história da arte editados em portugues. Inauguramos cursos dedicados à história e à estética, organizamos exposições dos poucos artistas nacionais e convidamos vários estrangeiros. Assim, aproveitava-se todo o espaço disponivel composto de pinacoteca e salas para exposições didáticas e periódicas.”

       Em pouco tempo o Masp transformou-se num centro de reuniões para os poucos iniciados e os muitos pretendentes à iniciação artística.” Nesse campo” continua o professor Bardi, ” São Paulo era uma cidade de escassa produção. A Semana de  Arte Moderna tinha  lançado em 1922 as sementes do inconformismo e rebeldia. Mas ela não era mais que uma lembrança de reuniões turbulentas.   E o museu foi inaugurado neste quadro: de um lado a vontade que pairava no ar e nas mentes dos artistas “modernos” de se renovar esteticamente e de outro, a necessidade de não chocar os fiéis ao status quo.” Digamos que a tarefa não era fácil.

      Bardi viera para o Brasil em 1946 para apresentar uma mostra de antigas pinturas italianas, conheceu Chateaubriand e dele recebeu o convite para implantar um museu em São Paulo.Bardi arregaçou as mangas: “Não fixemos limites às atividades artísticas. Apresentavamos concertos de musica de câmara à tarde e  promoviamos espetaculos de cinema, teatro e dança à noite. Até óperas foram encenadas. Histoire d’ Soldat de Stravinsky por exemplo, foi representada pela primeira vez no Brasil no palco de nosso teatrinho.”

       Tres anos após sua fundação, o Masp precisava de mais espaço. Ganhou o segundo andar da sede dos Diários Associados. Ali abriram-se escolas de design industrial, propaganda, jardinagem, dança, cinema. Formaram-se  uma orquestra juvenil, dois corpos de baile, um infantil e outro profissional. Nesta época mais de mil alunos circulavam freneticamente pelos corredores do jornal de Chateaubriand com linotipostas e jornalistas. Mas o fundamental para a eles era estar em contato permamente com pintores como Lasar Segall e Roberto Sambonet, o escultor August Zamoyiski, os arquitetos Lina Bo Bardi e Gian Carlo Palanti e o cineasta Alberto Cavalcanti, apenas alguns dos competentes artistas que se empenhavam em divulgar o museu.

        As exposições tornaram-se mais frequentes, algumas delas bastante importantes como a de Max Bill que desencadeou o concretismo no Brasil ou dos móbiles e jóias de Alexander Calder.  “Tivemos”, me contou o professor Bardi, “mostras da Escola de Paris; do desenho contemporâneo italiano; da gravura expressionista alemã; de toda obra de Käthe Koolwitz , panoramas do retrato frances, de Fouqué a Prud’hon e do cartaz. pelos originais de Toulouse- Lautrec e Chéret; dos trabalhos de Richard Nertra, com sua arquitetura de casas de campo ou as ilustrações de Dom Quixote. Não posso deixar de citar a mostra dedicada a Le Corbusier, com seus projetos para o Ministério da Saúde e dos planos urbanísticos para o Rio de Janeiro. A exposição, que teve inicio no Masp, acabou percorrendo vários paises da Europa.”

      Na verdade, o trabalho de Bardi foi levar a proposta do museu as ultimas conquencias. Para muitos a ideia de museu estava ligada a simples exposição de peças antigas. A moderna concepção é muitisssimo mais ampla. “Estamos.” dizia ele como sempre estivemos, “mais interessados na divulgação dos problemas históricos e de efervescencia contemporênaa do que na simples conservação. Nossa organização foi e continua sendo um autentico laboratório de elaboração e discussão dos problemas artisticos, procurando indicar caminhos de compreensão da arte viva.”

      Para aumentar o acervo da pinacoteca do museu, Assis Chateaubriand o ativo Chatô , como era chamado, usou da mesma criatividade que marcou suas campanhas politicas, como, por exemplo, quando decidou impulsionar a aviação brasileira e conseguiu centenas de aviões para os recém criados aeroclubes. Fez o mesmo pelo museu.

      Conhecedor de psicologia de seus compatriotas, o Chatô inventou um jeito infalivel de abastecer a pinacoteca: para oficializar a doação cada quadro era exposto em suntuosas recepções em edificios publicos ou em mansões elegantes do Rio, São Paulo e outras capitais. A noticia era devidamente divulgada nas primeiras páginas dos jornais da cadeia associada, pelas suas radios e TVs. Titulos de mecenas eram distribuidos fartamente, o que acabou por mobilizar numerosos doadores , como lembra Bardi.  “ Receber Ticiano,Renoir, Matisse com aplausos, panegiricos  e champanhe suscitou entre os homens abastados da industria o interesse por esse tipo de reuniões. Algumas aconteciam no próprio museu, outras até em praça publica como foi o caso da apresentação do Écolier de van Gogh em Salvador, com a presença de todas as escolas, numa festa civica sem precedentes.”

     Foi assim que se formou o precioso acervo de vários Renoir, Manet, Cézanne, van Ghoh, Bonnard, Di Cavalcanti entre inumeros outros artistas famosos que ao longo desses 38 anos tem sido vistos por milhoes de visitantes.

 

Na Paulista, a nova sede

obra prima de arquitetura 

 

     Em cima, o Trianon-um enorme terraço dando visão completa do Vale do Anhangabaú, embaixo um salão de baile, em frente o Parque Siqueira Campos.Era assim no passado o belo conjunto construido no aterro do vale-cruzamento com avenida Paulista em terreno doado por um cidadaão no intuito de dar a São Paulo uma area de lazer de muita classe e beleza.Em nome do progresso, o conjunto foi destruido.O Jockey Club reivindicou o local para instalar sua sede, outros pensaram em erigir ali uma enorme torre que pudesse transformar-se em marco da cidade. Mas a area acabou mesmo sendo mantida e ampliada ate os cinco mil metros quadrados para abrigar o que seria a nova sede do Masp.

        Foi em 1968 que o Museu de Arte de São Paulo mudou –se para a atual e definitiva sede na avenida Paulista, numero 1578. O edificio- projeto  da arquiteta Lina Bo Bardi- é considerado uma obra prima arquitetonica. E tem o maior vão livre de cimento armado da América Latina- mantendo a visão do Vale, em respeito à vontade do doador do terreno que havia imposto esta condição.       No edificio são sete espaços para artes plásticas: a pinacoteca, a entrada, o salão e o hall do primeiro andar, dois mezaninos, o hall civico do subsolo. Ha ainda dois auditórios-um de cem lugares e outro com capacidade para abrigar 410 pessoas. Diariamente  centenas de visitantes percorrem as salas do museu, embebedam-se de bom gosto, beleza e arte. São inumeras exposições de pintura, escultura, ceramica, além de palestras, cursos, seminários, concertos, espetáculos de dança , ciclos de cinema.

        “Muitas das atividades visam atingir o publico que normalmente não frequenta o museu, como a serie de Concertos do Meio Dia que acontecem todas as quartas feiras ( lembrar que a materia é de 1985). Com isso conseguimos atrair as pessoas que trabalham nas proximidades da Paulista” explica o Angelo Antonio Mugia, responsável , à época pela programação do Masp. O Masp fica aberto a visitação publica de terça a domingo das 10hs as 18h, quintas até as 20h .

 

  * Bardi permaneceu à frente do MASP por 49 anos e embora nunca tenha ocupado o cargo de presidente da instituição, foi durante todo esse tempo o efetivo "comandante" do museu, coordenando todas as suas atividades, à exceção do Departamento de Finanças, sempre confiado a Edmundo Monteiro. Em 1996, bastante abalado desde a morte de Lina, ocorrida em março de 1992, Bardi afastou-se da direção do MASP. Faleceu poucos anos depois, em  10 de outubro de 1999, aos 99 anos de idade.

Para saber mais: 

http://masp.art.br/masp2010/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo

http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/museus/4081-masp

 

 

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Sobre o autor:

Ana Lúcia Vasconcelos
Atriz, jornalista, escritora é licenciada em Ciências Políticas e Sociais pela PUC de Campinas, Mestre em Filosofia da Educação, pela Unicamp.

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