Sumi-ê de Nydia Bonetti
Os poemas de Sumi-ê, de Nydia Bonetti, inventam um jardim, que não é o zen japonês, mas tenta simulá-lo, com seu rigor de pedras. Surgem, aqui e acolá, uma...
Revista digital de Arte e Cultura
A simples identificação dos fatores que geram maior degradação ambiental pelas atividades econômicas que envolvem criação de animais para abate e posterior alimentação humana, por si, já favorece o entendimento da necessidade de uma mudança profunda no modo como indivíduos e sociedade encaram e se relacionam com o meio ambiente e indica a urgência em repensar – e reinventar! – os paradigmas de consumo global, como uma das principais alternativas viáveis para evitar as grandes catástrofes que se anunciam com tanto vigor.
Apesar de se falar tanto em aquecimento global e na conscientização do homem para conter o estrago na natureza por ele mesmo já instalado, não ouço, nos meios de comunicação, nem nos programas que incentivam a preservação do meio ambiente, alguém comentar que um dos principais fatores, causadores de todo desequilíbrio e suas consequências, seja justamente o consumo exagerado de carnes e seus derivados. Veja abaixo, para confirmar esta minha afirmativa, parte da cartilha com informações alarmantes que a Sociedade Vegetariana Brasileira (www.svb.org.br) elaborou com base nas pesquisas de órgãos neutros, como por exemplo, a CETESB, IBGE, Instituto Cepa, Sabesp entre outros.
A prioridade que o Brasil escolheu dar ao agro negócio é, para dizer o mínimo, discutível. A insustentabilidade desse modelo, que destrói nossos biomas, contradiz o projeto de erradicação da fome dos brasileiros, pois, como se sabe, o agro negócio é primordialmente voltado para a exportação. A soja que devasta o Cerrado e invade a Amazônia não vira alimento para pessoas- é exportada e transformada em ração de bois, frangos, porcos e peixes criados em cativeiro. Enquanto isso, fome e desnutrição assolam quase metade da população mundial.
Ou seja, temos hoje metade da agricultura mundial direcionada para a produção de ração para animais, sendo que a carne dos animais abatidos é acessível a menos de 15% dos seres humanos. No Brasil, segundo o Instituto CEPA, um boi precisa de um a quatro hectares de terra e produz, em média, 210 kg de carne, no período de quatro a cinco anos. No mesmo tempo e na mesma quantidade de terra, produzem-se, em média oito toneladas de feijão ou 19 toneladas de arroz ou 23 toneladas de trigo ou 44 toneladas de batata, e assim por diante. Um relatório alarmante da FAO, publicado em 2006, indica que os “estoques de animais vivos” mantidos para alimentação humana têm mais responsabilidade pelas mudanças climáticas do que todos os veículos automotores do mundo somados! No total, nada menos de 18% da emissão de todos os gases causadores do aquecimento global são gerados apenas pelas indústrias da carne. Uma fazenda com cinco mil bovinos produz a mesma quantidade de excrementos de uma cidade com 50 mil habitantes. Nos Estados Unidos, a produção de excrementos de animais é de 104 mil kg por segundo!
Ao se falar em evitar o desperdício de água, as dicas são as de sempre: fechar a torneira ao escovar os dentes, não lavar a calçada, etc. Como consumidores conscientes, podemos ir muito além. No Brasil, 45% da água doce é gasta na pecuária e 45 milhões de pessoas não têm acesso à água potável. Neste país, a pecuária utiliza e contamina, em sua cadeia produtiva, mais água do que as cidades. Enquanto são necessários menos de 500 litros de água para se obter 1 kg de soja, para produzir 1 kg de carne bovina gastam-se até 15 mil litros de água. Por isso, o vegetarianismo deve ser considerado com uma das formas mais eficientes para economizar água.
O impacto ambiental da pecuária sobre o solo é fora de série, pois a maior parte dos bovinos é criada pelo sistema extensivo: cada cabeça de gado precisa, no mínimo, de um hectare (10 mil m2) de pasto para engordar. Nossos rebanhos já contabilizam 200 milhões de cabeças e a pecuária ocupa mais de 250 milhões de hectares, quase um terço do território nacional! Essa ocupação desmedida do solo compromete nossa terra de várias maneiras. Entre 2002 e 2005, foram desmatados 70 mil km2 na Amazônia. Do cerrado, que contém um terço da biodiversidade brasileira, hoje restam 20%. E menos de 7% da Mata Atlântica está de pé.
Conclui-se, portanto, que o vegetarianismo tem uma contribuição inequívoca a dar em termos de produtividade. Qualquer projeto cuja meta seja o combate à fome e a implementação de um sistema produtivo sustentável, em que o uso da terra seja otimizado de forma a satisfazer as necessidades do maior número possível de pessoas, deverá, obrigatoriamente, considerar a ênfase no vegetarianismo. Aliás, sobre este assunto altamente polêmico o ex Beatles McCartney escreveu um artigo publicado no dia 21 de abril de 2008 pela Agencia Reuters propondo dieta vegetariana contra problemas climáticos. Ela exorta o mundo “a optar pela alimentação vegetariana como medida de combate ao aquecimento global e se diz surpreso pelo fato de mais grupos ambientalistas não estarem fazendo o mesmo.
E em entrevista concedida ao grupo de defesa dos direitos dos animais: Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA), McCartney disse que a indústria mundial de carne é um dos grandes fatores que contribuem para o aquecimento global.
Para ir além:
http://www.onca.net.br/textos-e-publicacoes/textos/textos-onca/producao-animal-e-impacto-ambiental/
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/natural/carta_da_terra/carta_da_terra.html
Claudia Poggetto mora em Campinas e é técnica judiciária e voluntária da Associação Amigos dos Animais de Campinas. Acredita não ser suficiente recolher animais das ruas, castrar e doar, é preciso conscientizar as pessoas a respeito dos direitos dos animais e dos deveres das pessoas em relação a eles. Escreve no Jornal da AAAC e em outros meios comunicação entre eles O Correio Popular de Campinas.