Poemas
chão descoberto onde me faço e me descubro até que me cubras e eu me desfaça - em chão o não sonhado queria ter sido - não...
Revista digital de Arte e Cultura
Sussurro suave ao redor, nuvem
de seda embalando astros.
Aqui, onde respira a vida,
perfume de malva, silêncio de córrego
entre pedras. Ar lúcido de luz.
LUZES DE MARFIM
Agora a poesia segue.
É só o que me segue, afinal.
Sentidos de sol.
Primaveras de cerejas.
A tarde tocando teus cabelos
brisa ao redor - teu lábio.
Aquele beijo paterno
na testa menina.
Voos meus que seguiam borboletas.
As belas horas tatuadas no espírito
liberto do grito inútil.
Fixado no etéreo, os sonhos
flanando quimeras em asas de seda,
o infinito aplaudindo em luzes de marfim
SEGUNDA MORTE
O pelotão avança cascata de passos
Em adágio, botas resvalando relva.
Coração acelera. O homem calvo cobre
Meus olhos. Aguardo o fim.
Lembro negro olhar em chamas, encanto.
Fatal certeza... Morrer? Já morri por ti.
VIOLETAS BRANCAS
Sigo teus passos, feito asteca, sonhando
a terra eterna e rica – tua pele.
Pele dos diários, onde leio a lua.
A maré suave que me enlaça nua,
echarpe de brisa e aurora, corais gris.
Adeus soledade de pedra. Paloma triste
em voo riste, ao longe.
O deus-do-sol-do-meio-dia, colibri azul
da era atômica, é um sopro de luz e sons.
Sonhos delineados na tela fria.
O mundo sangra e transforma a garça
em íbis rubro. Leio um salmo antigo,
acordo em manhãs violetas. Tenho por companhia
um pequeno vaso de violetas brancas.
ANCORANDO ESTRELAS
Sonhei com Dian Fossey.
Aquela que vivia entre orangotangos.
Comprarei um peixe dourado
e sorrirei para ele
no café da manhã.
Poetas são marinheiros,
a diferença é que seus portos são estrelas
e nunca ancoram
no meu coração – cais.
Aparição sonhada:
Teus olhos negros na soleira.
Seremos dois a sorrir para o peixe dourado.
LI PO & LUA
Sonhei com o abraço de Li Po
& lua.
Pálpebras pós-sonho são serestas
de bambus ao vento.
Pressinto o joio e o trigo e convivo
com as ervas todas.
Mas quando são águas
-Cristalizo.
Sei que algo imortal acontece.
Nasce em solidão no útero divino.
Lua negra-olhar-que-abraça.
Tenho razões para amar Li Po
Fechar a meia-noite negra
com uma cortina de lago.
Li Po braços abertos,
luas todas em estações e séculos
à espera deste abraço.
DEUS NO ORVALHO
(para Jorge Luiz Borges)
Jardim perfumado de Istambul.
Sol intolerável beija a rosa azul
no vaso branco, dois cães cor da lua
ao redor.
Teus olhos se perdem na rosa nua.
Olhos da cor do Mar Cáspio na aurora.
Gota de orvalho baila na pétala.
Cristal.
Ponto no espaço – Aleph
descortina o universo.
Sonhos enxertados de sóis, desertos,
aromas, fauna, primavera, borrascas.
Todo universo na gota clara
que cobre a rosa. A lágrima desce solar
ao lábio carmesim, e o peito arde de amor e luz.
Bárbara Lia é professora de História e escritora. Nasceu em Assai norte do Paraná e vive em Curitiba. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros. Tem publicados os livros: O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka - 2.004), Noir (Poesia, ed. do autor – 2.006), O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007), A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007), Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná - 2008), Constelação de Ossos (Romance, Ed. Vidráguas - 2010), Tem um pássaro cantando dentro de mim (Poesia, 2011 – edição independente), A flor dentro da árvore (Poesia - edição independente). Escreve no seu blog
http://chaparaasborboletas.blogspot.com.br/
Para saber mais sobre ela:
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%A1rbara_Lia
http://www.germinaliteratura.com.br/blia.htm
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/barbara-lia/
http://revistacontemporartes.blogspot.com.br/2010/04/poeta-paranaense-barbara-lia.html